sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Morrer com o ser amado – Nelson Rodrigues


Um dia saiu nos jornais um episódio que assombrou a cidade. Imaginem dois namorados, ele dezessete, ela dezesseis anos. As duas famílias faziam gosto. Ao cair da tarde, passeavam na calçada de mãos dadas. Iam ficar noivos e, de quinze em quinze minutos, um gostava mais do outro. Até que um dia saíram para visitar uma tia. E lá não chegaram. No dia seguinte, encontraram os dois, perto de Cascatinha, e mortos. Ao lado, um vidro de um desinfetante então muito usado – Lysol. Um bilhete assinado pelos dois, dizendo: – “Morremos felizes”. Só. Foi então que eu, ferido de espanto, descobri: – quem nunca desejou morrer com o ser amado, não conhece o amor, não sabe o que é amar.
(Nelson Falcão Rodrigues, 1912-1980. Extraído da crônica “Morrer com o ser amado”, de 8/1/1968. In: Nelson Rodrigues; O melhor do Romance, Contos e Crônicas. Seleção e apresentação de Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 73)

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